Por que eu devo escrever o meu livro??

06/01/2014 18:33

Há quanto tempo eu falo aqui que vou escrever um livro? Não que eu tenha falado muitas vezes. Talvez não tenha falado tanto justamente para não ter que cumprir com a minha palavra. 

citacao-thoreau

Agora eu encaro o desafio de ver meu nome impresso numa lombada de um livro. Fiz um curso de escrita criativa no ano passado, onde aprendi detalhes sobre a profissão de escritor, que de certa forma, é semelhante à do jornalista, talvez com mais liberdade. Tenho lido sobre escrever para crianças, porque me apaixonei pelos livros infantojuvenis há alguns anos. Tenho ouvido podcasts de escritores em início de carreira, e entrevistas com escritores experientes. Tudo isso me deixa pilhada pra ir atrás do meu sonho. Ainda assim, há algo que me segura: eu mesma.
play-practiceDeixa eu contar um segredo pra vocês: eu já comecei a escrever um livro. Comecei no ano passado, numa das aulas do mestrado. Escrevi em inglês, né? Comecei o livro numa aula. Na outra, de escrita criativa, avancei um pouco mais na mesma história. Há poucas semanas comecei a escrevê-lo em português (e está saindo bem diferente das versões originais). É para crianças de 8 a 12 anos, e não vou falar mais.
De tudo que já li e ouvi a respeito de escrever livros, o conselho principal é, adivinhem? Escrever. Sentar e escrever, todos os dias. Desligar o senso autocrítico e simplesmente despejar as palavras na tela, uma enxurrada de palavras. No final, você vai ter um rascunho bruto, que aí sim vai refinar e editar numa segunda rodada. E aí, o que eu faço? Penso na história. Penso nos personagens. Penso no feedback que eu tive dos meus primeiros rascunhos. Penso, penso, penso. E não escrevo. O livro é lindo e maravilhoso! Na minha cabeça.
Resolvi fazer uma listinha das coisas que me impedem de terminar esse livro (ou qualquer outro):
Pensar demais
Eu penso nesse livro pronto o tempo inteiro. Sei exatamente a história na minha cabeça. Mas não separo o tempo necessário para sentar e desenvolver essa história. Quando escrevi a primeira parte pela primeira vez, no final do texto, achei que tinha escrito o fim do livro, e não o início. Da segunda vez, escrevi o que eu achava que era o real início do meu livro. E vivo pensando em como vou costurar essa história. Começo no presente e adiciono o passado com flashbacks (primeira versão) ou escrevo tudo em ordem cronológica dos acontecimentos (segunda versão)? Fico pensando nesse dilema e não executo nenhuma das opções.
citacao-gaiman
Não saber o meio da história
Eu acho que sei onde o livro começa e onde ele termina. Mas o que acontece entre o início e o final? Não dá pra simplesmente encher linguiça, certo? Já ouvi dizer que quando você começa a escrever, a história acaba se desenrolando naturalmente. Até mesmo os escritores não sabem onde o livro vai parar, quais personagens vão entrar no meio da história, os desvios que vão acontecer, os desafios que os personagens vão encarar. A história se cria quando você começa a escrevê-la, e não é raro o final acabar diferente do que o escritor imaginava no início. Mas eu fico achando que tenho que saber o que acontece em cada capítulo antes de começar a escrever.
citacao-doctorow
Ler outros livros
Depois que encanei com essa ideia de escrever, eu passei a ler os livros de uma forma diferente. Eu analiso os estilos, os diálogos, pra tentar aprender alguma coisa com o estilo dos outros. Fico pensando em fazer igual a fulano ou ciclano, e acabo perdendo o foco de criar o MEU estilo próprio. Fico encantada com a narrativa alheia, e penso que eu nunca vou fazer algo semelhante. Começo a duvidar da minha própria capacidade. Outras vezes, quando vejo algo que não é tão bom assim (pra mim), fico pensando que se aquele escritor conseguiu publicar aquilo, eu vou conseguir publicar o meu também, mesmo que não esteja à altura de um livro premiado. O que me leva ao próximo empecilho.
Querer escrever um bestseller de cara
Quem não quer? E todo mundo sabe que as chances do primeiro livro de qualquer escritor entrar na lista dos mais vendidos é praticamente nula. Ou seja, tem que ter o primeiro, o segundo, o terceiro. Com o tempo, a escrita se aperfeiçoa, as pessoas vão conhecendo o seu trabalho e eventualmente você pode entrar pra lista dos mais vendidos. Ou não. Mas essa minha pressão em querer escrever o melhor livro que já existiu na face da Terra me bloqueia de sequer escrever o mais medíocre dos livros.
Medo de desperdiçar uma ideia
E porque eu sei que o primeiro livro não vai ser maravilhoso, eu fico com medo de escrevê-lo e desperdiçar a ideia fantástica (claro que a minha ideia é fantástica, né?) do tema do livro. Eu tenho umas 8 ideias de livros anotadas. Comecei por esse que estou fazendo porque já tinha começado pro curso. Mas tenho outras ideias a desenvolver. Mas, se esse primeiro livro, cuja ideia eu achei tão bacana, não for bem sucedido, eu terei jogado a ideia no lixo. De repente era melhor começar por outro livro, cujo tema não seja tão genial? E aí não escrevo nem esse, nem aquele.
citacao-faulkner
Não escrever
Como disse, o livro tá completinho. Na minha cabeça. Mas se ele não sair da minha cabeça, ele nunca vai existir de fato. Eu preciso me forçar a escrever, mesmo que eu ache que não esteja bom, mesmo que eu não saiba o que vai acontecer no próximo capítulo, mesmo sabendo que o livro não vai ser bestseller, e mesmo correndo o risco de jogar uma ideia no lixo. Ele tem que sair. Se o primeiro não sair, o segundo tampouco. Se eu não escrever, não vou aprender como é que se escreve de fato. Se eu não errar, não vou aprender a acertar. Se eu nem me arriscar, não vou petiscar mesmo.
citacao-kafka
Talvez eu esteja escrevendo tudo isso aqui como um contrato, um compromisso comigo mesma, que agora é público. Esse livro vai sair. Um dia. Não sei quando, mas vai. Se Deus quiser. Assim como eu realizei o sonho de ter matérias publicadas em revistas, vou realizar mais esse sonho de escrever livros. Livros. No plural.